Saturday, April 25, 2009

O poder do Silêncio



Admiro o silêncio como quem admira uma tela em branco. 
Como uma tela em branco que guarda em si todas as cores , o silêncio guarda em si todas as possibilidades de sons, do sussurro ao grito, da folha caindo ao terremoto. 
O silêncio situa-se entre o fim de um eco e o auge de uma algazarra cacofônica em uníssono. 
O silêncio é o murmúrio de Deus, mas também é o suspiro do Demónio. 
Antes de um trovão, o silêncio é palpável. 
No meio à multidão, o silêncio é invisível. 
Numa biblioteca, o farfalhar de páginas pode ser ouvido; numa boate, um tiro pode ser ignorado.
No barulho, o som baixo é um silêncio. 
No silêncio, um som baixo é um barulho. 
É o silêncio que forma palavras, e também é ele quem as dispensa: o silêncio fala muito numa imagem, porque as imagens valem mais do que mil palavras. 
Mas o silêncio fala pouco nos livros porque as palavras escritas preenchem os espaços vazios (silêncios) com palavras ( sons). 
A palavra escrita é som em potencial: se lida em silêncio, ela rompe o silêncio interno, da mente: se lida em voz alta, a palavra rompe o silêncio externo , do ambiente. 
No meio a uma conversa, o silêncio é perturbador; num cemitério à meia-noite, ele é desejável; para o músico, é o seu instrumento de trabalho; para o mudo, é uma imposição à sua expressão; para o surdo, é a ausência de impressão; e é por isso que os escritores são os oradores do silêncio. 
Para quem quer dormir, é necessário que ele seja mantido; para os que querem acordar, ele deve ser rompido. 
O silêncio pode significar extremos: algo de muito ruim ou de muito bom; para um casal, o silêncio é o excesso de amor ou a falta dele. Para uma flor, o silêncio é vida; para um pássaro, é a morte. 
Para um falastrão, é uma dívida; para o gago, é um alívio; para o político, é uma derrota; para o palestrante, uma vírgula; para o sábio, uma meditação; mas para o ignorante, o silêncio é um castigo.

Patrick Berlinck

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