Monday, July 26, 2010

25 de Julho, dia de Santiago de Compostela


O nome “Santiago de Compostela” tem sua origem em “São Tiago da Estrela” – é que o túmulo do apóstolo foi encontrado em 813 pelo pastor Pelayo que repetidas vezes via uma estrela indicando um sepulcro no monte Libradón. Neste local, mais tarde foi construída uma igreja que passou por diversas fases até se tornar a Basílica de Santiago de Compostela. Os restos mortais do apóstolo continuam no mesmo local e estão guardados em uma pequena urna no subsolo da basílica.


Vista da Basílica de Santiago de Compostela na Praza do Obradoiro, em 1179 o papa Alejandro III outorgou a indulgência plena aos que visitam o templo no dia 25 de julho, dia de Santiago

Para entender o significado religioso deste lugar é preciso saber um pouco da história da época em que tudo começou. No início do século IX os muçulmanos invadiram a região. Eles invocavam e unificavam as suas forças sob a proteção de Maomé. Enquanto isso os cristãos, fragmentados em pequenos reinos, não tinham um líder carismático que os unisse. Quando a notícia de que o pastor havia encontrado um túmulo sagrado chega ao conhecimento de Teodomiro, bispo da diocese, este ordena que fossem feitas escavações no local. Durante os trabalhos foi encontrada uma urna de mármore e, por revelação divina, Teodomiro anuncia que os restos mortais ali encontrados pertenciam ao apóstolo São Tiago e assim surgiu o mito.

No interior da basílica a urna com os supostos restos mortais do apóstolo Tiago

Mais do que um encontro com o apóstolo, o caminho é uma busca interior. Até porque não se sabe ao certo se os restos mortais que se encontram na basílica pertencem realmente a Tiago. No século XVI a Europa Central vivia em meio às guerras religiosas com o fortalecimento do protestantismo. Temendo que piratas ingleses atacassem o túmulo do apóstolo, em 1588 um arcebispo esconde o sepulcro. De tão bem escondido, ele fica sumido por 300 anos. A partir daí o número de peregrinos que vão a Compostela vai diminuindo drasticamente. Em 1879, durante uma reforma no altar principal é encontrada uma urna com os esqueletos de três homens. O papa Leon XIII sanciona quatro anos de pesquisas científicas e depois anuncia que os restos do apóstolo haviam sido reencontrados.


Placa que indica o caminho aos peregrinos com o desenho estilizado da Vieira - concha símbolo dos peregrinos e da região da Galícia, onde está Compostela



São Tiago, o maior, filho de Zebedeu, foi decapitado no ano de 42 em Jerusalém, por ordem de Herodes. Segundo a tradição, os seus discípulos roubaram seu corpo e o levaram de barco, em uma viagem que levou sete dias, até a desembocadura do rio Arousa, para cumprir com o rito praticado entre os apóstolos de serem enterrados no local onde haviam pregado e escolhido para serem enterrados.



A Porta Santa abre somente nos anos jacobinos, quando o dia 25 de julho coincide com um domingo


No século X surge a terminologia “peregrino” – aquele que viaja a Compostela, assim como os romeiros que iam a Roma e os palmeiros que seguem para Jerusalém. A peregrinação junto com as cruzadas se transforma no motivo principal das viagens na época medieval.



Detalhe da imagem de Santiago no altar principal da basílica


Quando o dia de São Tiago, 25 de julho, cai num domingo é festejado o Ano Jacobino e a Porta Santa da catedral é aberta aos fiéis. Dizem que quem cruza esta porta tem todos os pecados perdoados. O último ano santo ocorreu em 1999 e o próximo será comemorado em 2004.

Existem incontáveis caminhos até Santiago de Compostela, mas os três mais conhecidos são o Francês, o Aragonês e o da Costa Atlântica. O Aragonês tem 849,8 km e parte de Somport, o Francês tem 774,1 km e é o único que atravessa os Pirineus e começa em Saint-Jean-Pied-De-Port, o da Costa Atlântica começa em Irun e foi uma das principais rotas de peregrinação no início da devoção jacobea, actualmente é pouco explorado. Se os cerca de 800 km parecem uma caminhada longa demais, saiba que é preciso percorrer apenas 100 km para receber o certificado de peregrino, a Compostela.

Indiferente ao trecho escolhido, a média diária de caminhada varia entre 20 e 30 quilômetros e é quase impossível encontrar alguém que não tenha feito bolhas d’água nos pés, alguns chegam a perder todas as unhas. Sacrifícios que depois são contados em rodas de amigos, muitos feitos pelo caminho, com um sorriso e satisfação no rosto. Dicas como usar duas meias, uma fina por baixo e uma mais grossa por cima faz com que o atrito maior fique entre as meias e não no pé e usar a meia do lado avesso para que a costura fique por fora são detalhes simples que podem diminuir um pouco o sofrimento.

O início da caminhada é a parte mais importante para o sucesso da peregrinação. A ansiedade e o corpo descansado podem ser os principais inimigos do peregrino. É comum pessoas andarem mais de 30 km no primeiro dia, o problema é levantar da cama no dia seguinte. O ideal é começar com trechos curtos e ir aumentando na medida em que o organismo vai se adaptando aos longos trechos.

As três maneiras reconhecidas de peregrinação são: a pé, de bicicleta ou a cavalo. Mas antes de viajar é preciso fazer uma boa pesquisa da melhor época, saber o que se deve levar na mochila para evitar carregar peso desnecessário (o máximo aconselhado é de 10 kg). E o mais importante: é fundamental ter em mãos a credencial de peregrino. Ela pode ser feita no início do caminho em alguns escritórios. Sem esta carteira não se pode dormir nos albergues e não se tem como provar que você realmente fez o trajecto para receber o certificado de peregrino. A carteira é gratuita.


Mais informações podem ser obtidas no site http://www.xacobeu.es/.


A popularização do Caminho deve-se principalmente ao escritor Paulo Coelho, que lançou o livro "O Diário de um Mago". Nesta obra, o autor narra as experiências místicas vivenciadas na sua peregrinação em 1989. Além de Paulo Coelho, a cantora Baby do Brasil escreveu "Peregrina – Meu Caminho no Caminho", onde também é descrita a sua trajetória até Compostela. Mas a literatura brasileira abriga outros títulos que servem de incentivo e preparação para aqueles que se dispuserem a caminhar mais de 800 quilômetros até a cidade de Santiago de Compostela, tombada pela UNESCO como Património da Humanidade, em 1992.

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