Tuesday, February 10, 2009

Como se escreve…


Quando eu tinha somente cinco anos, a professora do jardim-de-infância pediu aos alunos que fizéssemos um desenho de alguma coisa que amávamos.
Eu desenhei a minha família. Depois, tracei um grande círculo com lápis vermelho ao redor das figuras.

Desejando escrever uma palavra acima do círculo, sai de minha mesinha e fui até à mesa da professora e disse:
- Professora, como a gente escreve…?
Ela não me deixou concluir a pergunta.
Mandou-me voltar para o meu lugar e não me atrever mais a interromper a aula.
Dobrei o papel e o guardei no bolso.

Quando retornei para casa, naquele dia, me lembrei do desenho e o tirei do bolso.
Alisei-o bem sobre a mesa da cozinha, fui até à minha mochila, peguei um lápis e olhei para o grande círculo vermelho.

A minha mãe estava a preparar o jantar, indo e vindo do fogão para o lava-loiças. Eu queria terminar o desenho antes de mostrá-lo para ela e disse:
Mamãe, como a gente escreve…?
- Menino, não dá para ver que estou ocupada agora?
Vá brincar lá fora. E não bata a porta, foi a resposta dela.
Dobrei o desenho e guardei no bolso.

Naquela noite, tirei outra vez o desenho do bolso.
Olhei para o grande círculo vermelho, e peguei o lápis.
Queria terminar o desenho antes de mostrá-lo para o meu pai.
Alisei bem as dobras e coloquei o desenho no chão da sala, perto da poltrona reclinável do meu pai e disse:
- Papai, como a gente escreve…?
Estou a ler o jornal e não quero ser interrompido.
Vá brincar lá fora. E não bata a porta.
Dobrei o desenho e o guardei no bolso novamente.

No dia seguinte, quando a minha mãe separava a roupa para lavar, encontrou no bolso das calças enrolados no papel, uma pedrinha, um pedaço de barbante e dois berlindes.
Todos os meus “tesouros” que eu catara enquanto brincava fora de casa.
Ela nem abriu o papel.
Atirou tudo no lixo.


Os anos passaram…

Quando tinha 28 anos, minha filha de cinco anos, fez um desenho.
- Este aqui é você, papai!
Era o desenho da sua (minha) família.
Olhei para o grande círculo vermelho feito pela minha filha ao redor das figuras, e lentamente comecei a passar o dedo sobre o círculo.

Sorri quando ela apontou uma figura alta, de forma indefinida e me disse:
- Papai, como a gente escreve amor?

Ela desceu rapidamente do meu colo e avisou:
Eu volto logo!
E voltou. Com um lápis na mão.
Acomodou-se outra vez nos meus joelhos, posicionou a ponta do lápis perto do topo do grande círculo vermelho e perguntou:
- Papai, como a gente escreve amor?

Abracei a minha filha, tomei a sua mãozinha e a fui conduzindo, devagar, ajudando-a a formar as letras, enquanto dizia:
Amor...
Amor, querida, se escreve com as letras T…E…M…P…O (TEMPO).

Conjugue o verbo amar todo o tempo.
Use o seu tempo para amar.
Crie um tempo extra para amar, não esquecendo que para os filhos, em especial, o que importa é ter quem ouça e opine, quem participe e vibre, quem conheça e incentive.

Não espere o seu filho ter que descobrir sozinho como se soletra amor, família, afeição.
Afinal, o ser humano é um poço de criatividade e o tempo…
Por fim, lembre-se:se você não tiver tempo para amar, crie.

…bom, o tempo é uma questão de escolha.


Desconheço o autor.

No comments: