Sunday, August 9, 2009

Um Grande Amor

Stella estava sentada na sala. Era Inverno, mas o maior frio que ela sentia vinha de dentro. Da alma.
Jamais ela sentira tanto medo da tempestade, dos ventos gelados e da chuva. É que agora estava sozinha.
O seu querido David havia morrido há 3 meses. Ela jamais poderia imaginar que sentiria tanto a sua falta.
Desde que o diagnóstico de câncer terminal chegara, ela se preparara para a morte dele.
Ele também. Homem organizado, deixara toda a papelada em ordem.
Dinheiro não lhe faltaria para as necessidades. Ele pensara em tudo.
Mas a sua ausência era terrível.

Ao terceiro toque da campainha, ela se levantou para atender a porta.
Antes, olhou pela janela, um pouco desconfiada. Afinal, havia tantos assaltos.
Era um rapaz com uma caixa grande. Viu o carro de entregas estacionado em frente ao portão.
Abriu a porta e o ar gélido entrou, tomando conta da sala inteira. É a senhora Araújo? – Perguntou o funcionário.
Ao sinal afirmativo de Stella, ele pediu licença para entrar e colocou a caixa no meio da sala.
Antes que pudesse indagar qualquer coisa, o entregador, jovial, foi explicando:
A senhora nos desculpe. Era para entregar somente na véspera do Natal. Porém, hoje é o último dia de expediente no canil. Espero que a senhora não se importe.

Entregou-lhe um envelope, abriu a encomenda e retirou o presente: um filhote de cão Labrador.
A carta explica tudo, continuou o rapaz. O cão foi comprado em Julho, quando a mãe dele estava prenhe.
Ele tem seis semanas de idade e é um cão doméstico.
A senhora espere um pouco que vou buscar o restante da encomenda.
Largou o cãozinho que foi se sentar aos pés de Stella, fungando feliz e olhando para ela.
O restante da encomenda era uma caixa enorme de alimentos para cães, uma correia e um livro “Como cuidar de seu cão Labrador”.

Stella continuava parada, estática. Acabara de reconhecer no envelope a letra de David. Quando o entregador se foi, ela andou de volta até à sua poltrona. Tremia inteira.
O cãozinho ficou ali, olhando-a ainda com os seus olhos castanhos, à espera de um afago. A carta não era longa mas repassada de carinho.
David escrevera-a antes de morrer e deixou-a com o proprietário do canil. Era o seu último presente de Natal.
Ele havia comprado o animal para lhe fazer companhia. A carta era cheia de amor e lhe dava ainda conselhos e incentivo para que fosse forte, até ao dia em que voltariam a ficar juntos, na espiritualidade.

Ela olhou para o cãozinho e estendeu a mão para o apanhar. Segurou-o nos braços. Pensou que fosse pesado, mas tinha o peso e tamanho da almofada do sofá.
O animalzinho de pelos castanhos lambeu-lhe o queixo e aninhou-se no seu pescoço. Ela chorou de saudade. Ele ficou ali, quietinho. Então, criaturinha, aqui estamos você e eu.
O cachorrinho fungou, concordando, pondo a sua língua rosada para fora. Stella sorriu.
Então, vamos para a cozinha fazer uma sopa? Vou dar-lhe ração e depois leremos um bom livro, juntos. Que acha?
O cãozinho latiu e abanou a cauda, como se tivesse entendido exactamente o sentido de cada uma das palavras. E acompanhou Stella até à cozinha.






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