Sunday, October 26, 2008

A astrologia como caminho espiritual


A ASTROLOGIA COMO CAMINHO ESPIRITUAL

Os signos fixos, a esfinge e os mitos do apego
Divani Terçarolli

Touro, Leão, Escorpião e Aquário expressam diferentes formas de apego que precisam ser superadas para que o ser humano reencontre sua ligação com o Todo. A esfinge de Gizé e a simbologia dos mitos fornecem pistas para ilustrar esta caminhada.

Aprendi Astrologia ouvindo meu velho mestre, o prof. Waldyr Fücher, dizer que a Bíblia é o livro mais astrológico do mundo. E ele sabia o que estava dizendo, como nesta passagem do Antigo Testamento: “O brilho das estrelas faz a beleza do céu, adornam de luz as alturas do Senhor. À palavra do Santo, prontas a executar-Lhe as ordens, como sentinelas incansáveis se mantêm” (Eclesiastes, 43. 10 -11). Nesta outra, temos o princípio dos trânsitos astrológicos: “Para tudo há um tempo debaixo do Sol” (Eclesiastes 3. 1-8). A referência ao eixo Virgem/Peixes pode ser observada na passagem em que Jesus abençoa cinco pães e dois peixes, alimenta a multidão que o seguia, e ainda faz seus discípulos encherem 12 (!) cestos com as sobras (Mateus 14. 18-20).

Multiplicação dos pães

Mosaico representando a multiplicação dos pães e dos peixes na
Igreja da Multiplicação - Tabgha, ao norte do Mar da Galiléia.

O Livro de Jó, homem justo que sofreu até o limite de suas forças, mas não perdeu sua fé, nos remete aos duros trânsitos de Saturno, ou até mesmo de Plutão. Carl Gustav Jung escreveu seu livro “Resposta a Jó” durante um trânsito difícil de Saturno, segundo sua filha Gret B. Jung. Não só as histórias da Bíblia judaico-cristã começam a fazer sentido, mas os textos sagrados, filosóficos e mitos de diversas tradições, chaves para o autoconhecimento, afirmam as mesmas verdades. Começamos a ver similaridades entre as palavras de Buda, Lao Tsé, Cristo, Krishna, e a entender que tudo enfim provém da mesma fonte.

A Astrologia é uma das mais antigas chaves para o autoconhecimento, talvez a mais adequada delas disponível ao homem moderno. No axioma hermético "O que está acima é como o que está embaixo“, nesta analogia entre Macrocosmos e Microcosmos, vemos similaridade com a mais conhecida oração cristã: “Seja feita a Sua vontade, assim na terra como no céu.” E assim, acredito que a Astrologia tem um tremendo potencial para desempenhar um papel importante na busca do ser humano pela totalidade, que nada mais é do que a nossa re-união ao Todo.

Um dos livros mais misteriosos e ricos em simbolismo astrológico da Bíblia é, com certeza, o Apocalipse de João. Vejamos:

Havia diante do trono um mar límpido como cristal. Diante do trono e ao redor, quatro Animais vivos cheios de olhos na frente e atrás. O primeiro animal vivo se assemelhava a um leão; o segundo a um touro; o terceiro tinha um rosto como o de um homem; e o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo. (Apocalipse 4. 6-7)

Os mesmos animais citados no livro bíblico podem ser vistos no monumento egípcio conhecido como Esfinge de Gizé, uma estranha figura formada por partes de quatro diferentes animais: cabeça humana, cauda e garras de leão, corpo de bezerro e asas de águia. Um enigma! Mas qualquer astrólogo pode reconhecer aqui os quatro signos fixos: Leão, Aquário, Touro e Escorpião.

Historiadores têm discordado com relação à idade desse monumento. Até alguns anos atrás se pensava que tinha a mesma idade das pirâmides que ela parece "guardar", mas, recentemente, novos estudos indicaram que a Esfinge pode ter dez mil e quinhentos anos - mais do que o dobro da idade das pirâmides.

Esfinge

Acredito que a Esfinge é uma síntese. Talvez, seus construtores, com certeza conhecedores da Astrologia, tenham desejado fazer chegar à Humanidade do futuro a mensagem contida nos elementos e qualidades desses quatro signos: Leão, Aquário, Touro e Escorpião.

Enquanto os signos fixos representam qualidades como estabilidade, segurança, preservação e manutenção do status quo, a doutrina Budista afirma que todas as coisas materiais são transitórias, impermanentes, e que todo sofrimento presente no mundo deriva de nossa tendência de apego às formas fixas, sejam objetos, pessoas ou coisas, em lugar de aceitarmos o mundo à medida que ele se move e se transforma. No Budismo, o mundo material é Samsara: o movimento incessante. A insatisfação e o sofrimento são o resultado de anseios ou desejos que não podem ser plenamente realizados, e estão atrelados ao nosso desejo de poder.

O físico Fritjof Capra, no seu livro 2O Tao da Física", fala-nos:

"Buda não estava interessado em satisfazer a curiosidade humana acerca da origem do mundo, da natureza do Divino ou questões desse género. Ele estava preocupado exclusivamente com a situação humana, com o sofrimento e frustrações dos seres humanos. A sua doutrina, portanto, não era metafísica: era uma psicoterapia. Buda mostrava a origem das frustrações humanas e a forma de superá-las."

Segundo ele, a única maneira de nos livrarmos do sofrimento é controlar os desejos, o que não significa exterminá-los, mas sim, não ser controlado por eles, nem acreditar que a felicidade está atrelada à sua satisfação. Desapego é a palavra-chave. O ideal budista é a moderação: em tudo devemos seguir o “dourado caminho do meio.”

Sempre ouvi meu mestre se referir à cruz dos signos fixos como o Caminho do Discipulado. Estabilidade, segurança, preservação e manutenção do status quo, os fixos não gostam de mudança, e nem querem ouvir falar desse tal movimento incessante...

Quando tentamos reter, segurar coisas, pessoas e situações para sempre conosco, sofremos, pois estamos contrariando a ordem natural. Isso é apego. Portanto, a chave para nos libertarmos do sofrimento é o desapego.

Em Leão, signo de Fogo, o apego à essência, à identidade (personalidade), a ilusão de auto-importância e seus derivados, como o orgulho, é que deve ser abandonado. Em Touro, signo de Terra, o apego material, aos bens, dinheiro, ao prazer e conquistas materiais. Em Aquário, signo de Ar, o apego intelectual e social, às idéias preconceitos e conceitos de honra e desonra, a necessidade de aceitação social, dos amigos, nos fazem sofrer, enquanto em Escorpião, signo de Água, o apego emocional e sentimental, apego às pessoas e coisas que amamos e situações a que nos habituamos é o que nos tortura mais intensamente.

Enfim, sofremos toda vez que perdemos alguma dessas coisas às quais temos apego, toda vez que algum desses objectos de nossos desejos é removido, tirado de nós.

A escritora e clarividente inglesa Joan Cooke enumera as lições dos elementos que a alma precisa aprender para evoluir: as pessoas de Fogo precisam aprender o amor; as pessoas de Água, a paz; as pessoas de Ar, a fraternidade; e as pessoas de Terra, o serviço.

Vamos agora tentar compreender melhor cada tipo de apego através dos mitos e de textos sagrados de várias procedências.

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