Monday, June 16, 2008

Monólogo de uma mulher moderna


São 5.30H da manhã, o despertador não pára de tocar e não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede.
Estou acabada.
Não quero ir trabalhar hoje.
Quero ficar em casa, a cozinhar, a ouvir musica, a cantar, etc.
Tudo menos sair da cama, meter a primeira e ter de por o cérebro a funcionar.
Gostava de saber quem foi a bruxa imbecil, a matriz das feministas que teve a desgraçada da ideia de reivindicar os direitos da mulher e porque o fez connosco que nascemos depois dela? Estava tudo tão bem no tempo das nossas avós, elas passavam o dia todo a bordar, a trocar receitas com as suas amigas, ensinando-se mutuamente segredos de condimentos, truques, remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos seus maridos, decorando a casa, podando arvores, plantando flores, recolhendo legumes das hortas e educando os filhos.
A vida era um grande curso de artesãos, medicinas alternativas e de cozinha.
Depois ainda ficou melhor, tivemos os serviços, chegou o telefone, as telenovelas, a pílula, o centro comercial, o cartão de credito, a Internet!
Quantas horas de paz a sós e de realização pessoal nos trouxe a tecnologia!
Até que veio uma tipa, que pelos vistos não gostava do corpinho que tinha, para contaminar as outras rebeldes inconsequentes com ideias raras sobre”vamos conquistar o nosso espaço”.
Que espaço?!
Que caraças!
Se já tínhamos a casa inteira, o bairro era nosso, o mundo a nossos pés!!!
Tínhamos o domínio completo dos nossos homens, eles dependiam de nós, para comer, vestirem-se e para parecerem bem à frente dos amigos e agora?
Onde é que eles estão???
Nosso espaço???!!!
Uma treta...
Agora eles estão confundidos, não sabem que papel desempenham na sociedade, fogem de nós como o diabo da cruz.
Essa piada... essa ideia estúpida, acabou por encher-nos de deveres.
E o pior de tudo acabou lançando-nos no calabouço da solteirice crónica aguda!!!!
Antigamente os casamentos eram para sempre.
Porquê?
Digam me porquê, um sexo que tinha tudo do melhor que só necessitava de ser frágil e deixar-se guiar pela vida começou a competir com os machos?
A quem ocorreu tal ideia?
Vejam o tamanhão dos bíceps deles e vejam o tamanho dos nossos!
Estava muito claro que isso não ia terminar bem.
Não aguento mais ser obrigada ao ritual diário de ser magra como uma escova, mas com as mamas e o rabo rijos, para o qual tenho que me matar no ginásio, ou de juntar dinheiro para fazer uma mamoplastia, uma lipo, ou implantes nas nádegas...
Além de morrer de fome, pôr hidratantes, anti-rugas, padecer do complexo do radiador velho a beber água a toda a hora e acima de tudo ter armas para não cair vencida pela velhice, maquilhar-me impecavelmente cada manhã desde a cara ao decote, ter o cabelo impecável e não me atrasar com as madeixas, escolher bem a roupa, os sapatos e os acessórios, não vá não estar apresentável para a reunião do trabalho.
E não só, mas também ter que decidir que perfume combina com o meu humor, ter de sair a correr para ficar engarrafada no transito e ter que resolver metade das coisas pelo telemóvel, correr o risco de ser assaltada ou de morrer numa investida de um autocarro ou de uma mota, instalar-me todo o dia em frente ao PC, trabalhar como uma escrava, moderna claro esta, com um telefone ao ouvido a resolver problemas uns atrás dos outros, que ainda por cima não são os meus problemas!!!
Tudo para sair com os olhos vermelhos ?
Pelo monitor, porque para chorar de amor não há tempo!
E olhem que tínhamos tudo resolvido, estamos a pagar o preço por estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, perfumadas, unhas perfeitas, operadas, sem falar do currículo impecável, cheio de diplomas, de doutoramentos e especialidades, tornámo-nos super-mulheres mas continuamos a ganhar menos que eles e de todos os modos são eles que nos dão ordens!!!!
Que desastre!
Quero alguém que me abra a porta para que possa passar, que me puxe a cadeira quando me vou sentar, que mande flores, cartinhas com poesias, que me faça serenatas à janela!
Se nós já sabíamos que tínhamos um cérebro e que o podíamos utilizar para quê ter que demonstra-lo a eles??
Ai meu Deus, são 6.10H, e tenho que levantar-me da cama...
Que fria está esta solitária e enorme cama!
Ahhhh...
Quero um maridinho que chegue do trabalho, que se sente ao sofá e me diga: Meu amor não me trazes um whisky por favor? ou:
O que há para jantar? Porque descobri que é muito melhor servir-lhe um jantar caseiro do que atragantar-me com uma sanduíche e uma Coca-Cola light enquanto termino o trabalho que trouxe para casa.
Pensas que estou a ironizar ou a exagerar?
Não minhas queridas amigas, colegas inteligentes, realizadas liberais.....e idiotas!
Estou a falar muito seriamente: Abdico do meu posto de “mulher moderna”.
E digo mais : A maior prova da superioridade feminina era o facto de os homens esfalfarem-se a trabalhar para sustentar a nossa vida boa!
Agora somos iguais a eles!

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